sexta-feira, 28 de setembro de 2012

madruga-me a sede







ás vezes madruga-me a sede
subo menina à cama
enquanto a tua voz canta
trago da tua pele sinais
pássaros em gomos declarando sol
acabou o café
o frio regressa ao cair das horas
entardece
as palavras são crepúsculo
à hora em que toca o sino
guardamos o som da água
na homilia do cinema 
o pátio é de pedra
onde a lua nos consola a boca
o mel renasce-me nos poros
onde a grande tarefa é respirar desertos
adornados de usuras onde só tu me sabes
" a noite outrora não tinha céu
o dia não tinha chão"
agora
o amor é o catre das artérias
palpitando no sexo
samba em que me cedo
cravo na terra mordendo cego
instante a gemer entre paredes
aqui - violo no orgasmo a paz
roubo o silêncio das noites
com os olhos abertos para dentro
o alfabeto dos homens na água das mulheres
o limo a contornar a nuca
a cidade no bico dos seios embalsamada
o verão na luxuria dos livros
e o tempo a fio no que dizes
eu
digo-te coisas naturais
tu fazes escapulir peixes em cardumes
na rua  dobrada no vapor da boca
onde eu chego
mesmo quando parto


pintura  e poema maria andersen

quarta-feira, 26 de setembro de 2012



a noite é uma demanda de sombra
uma concha dentro das mãos
como um acidente democrático
ao lado da vigília

a boca - o espanto - a esmeralda
o abismo do pensamento
a criar orientes junto ao teu rosto
onde a manhã "corre como um mendigo
sobre um cais de mármore"

na filigrana da chuva eu danço
com olhos enormes onde o amor é proa
candeia bordada de girassóis   por dentro da carne

uma goiaba - delírio na mudez do verbo
a  voz  - toda nascimentos


pintura e poema de maria andersen

domingo, 23 de setembro de 2012

                        

teço degraus na chuva -
o tecto é verde
o teu sono um campo de goivos
onde danço

grito-me por dentro
onde os ouvidos escutam

desenhei-te na parede junto aos colares
onde o quarto é imenso
pela noite onde o corpo é quartzo

a janela céu pintado na pupila
onde o relâmpago é "rosa de água"




pintura e poema de maria andersen


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

cantemos
as veias jorram nas árvores
nas raízes  o sol arde a pique
e os que leêm não entendem
vivo noutras vozes
porque o destino não me cabe nas mãos
tenho o fim por inimigo
as letras como estradas longas
de onde extraio humanidade

maria andersen